O mundo do brincar sozinho: um problema ou um caminho?
Hoje em dia, especialmente após um longo e intenso período de reclusão social causado por uma pandemia, é muito comum ouvir falar sobre a importância das interações sociais entre as crianças para a construção do conhecimento e como a privação das mesmas pode ter causado um grande impacto na vida dos pequenos. Por esse motivo, muitos educadores, famílias e até instituições de ensino defendem a bandeira da interação social como o único meio para que os processos de aprendizagem aconteçam. No entanto, é preciso parar, observar o momento em que vivemos sob diferentes perspectivas e questionar: Afinal, o brincar sozinho de fato constitui-se como um prejuízo na construção do conhecimento das crianças?
Para pensarmos juntos sobre o assunto, antes de mais nada, precisamos lembrar-nos de que as interações ocorrem de diversas formas e constantemente na vida de qualquer ser humano: entre crianças e adultos, entre crianças e crianças, entre crianças e objetos... E por essa razão, também é preciso ter em mente que, falar sobre o ato de brincar sozinho, implica de alguma forma falar sobre interações. No fim das contas, o fato de não ser possível ter companhia para brincar em diversos momentos não deixa de representar as interações das crianças com o mundo que as cerca. Trata-se apenas de situações que hoje talvez tragam muitas preocupações e dúvidas para os adultos que as observam, mas que se vistas sob estas diferentes óticas, podem nos ensinar muito mais do que imaginamos sobre o mundo dos pequenos.
Dessa forma, permitir que a criança tenha momentos únicos para estar consigo mesma e brincar sozinha sem a necessidade de seguir estruturas pré-estabelecidas por adultos ou roteiros já definidos pelos outros, abre portas para um mundo incrível carregado de possibilidades, que exige o uso constante da imaginação, requer autonomia que se refina a cada oportunidade, pleiteia soluções criativas para situações-problema e demanda um posicionamento que indica o sucesso de todo o trabalho feito pela família e escola nos processos de aprendizagem das crianças: o ato de poder construir o próprio conhecimento e se apropriar disso.
Finalmente podemos então inferir que as interações humanas nas brincadeiras promovem, sim, habilidades importantes para o desenvolvimento infantil e, por isso, não se pode excluir inteiramente o pensamento de que tais interações exercem um papel importante nesse processo de crescimento e amadurecimento das crianças. A escola é, inclusive, por essa razão, um dos espaços sociais mais importantes para as crianças pequenas depois da família. No entanto, encontrar o equilíbrio entre os momentos cheios de expectativa do brincar sozinho e as experiências novas vividas com outras crianças constitui-se um caminho possível para que os pequenos aproveitem o melhor dos dois mundos e sejam presenteados com uma jornada de aprendizagem cheia de possibilidades e vivências transformadoras.
Por Rafaelle Sena
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